Usiminas também cria mecanismos de aproximação com universidades. Ao direcionar capital para centros de tecnologia, elas buscam garantir pessoal qualificado
O Brasil ainda ensaia uma sinergia consistente entre universidades e empresas, em parte devido à falta de canais de comunicação. Para contornar o impasse, tendo em vista o déficit de mão de obra capacitada, a iniciativa privada começa a investir em infraestrutura de pesquisa — a exemplo de Alemanha e Estados Unidos, modelos no assunto empresa-escola.
Por aqui, essa aproximação parte da convicção de que o Estado não conseguirá formar sozinho os técnicos necessários. “Por mais que o governo invista, o Brasil não consegue formar todos os profissionais que precisa. Podemos cruzar os braços ou ser proativos”, diz o diretor de tecnologia da Vale, Luiz Mello.
A constatação levou à elaboração de um programa de bolsas de estudos para mestrandos e doutorandos. O projeto está orçado em R$ 120 milhões, com verba de fundações de amparo a pesquisa de Minas Gerais (Fapemig), Pará (Fapespa) e São Paulo (Fapesp). O montante financiará 85 projetos selecionados entre 276 propostas. A iniciativa integra o plano estratégico da Vale de desenvolver novos processos para mineração, sustentabilidade e energia. O aporte soma-se ao projeto maior da mineradora, que reserva outros US$ 300 milhões para construir três institutos de tecnologia.
Um dos focos será pesquisar o uso de novas fontes de energia, a partir do movimento das marés, eólica ou nuclear. Isto porque a Vale é a maior consumidora privada de energia do país, tendo atingido 12,4 mil terawatts (TWh) em 2009 — o suficiente para abastecer por um ano uma cidade com 4,5 milhões de habitantes. “A Vale considera a possibilidade de uma expansão no setor de energia, um mercado muito interessante no qual queremos nos posicionar melhor”, diz Mello.
O próximo passo será elaborar cursos de pós-graduação para mestres e doutores. A empresa discute o modelo com a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Ensino Superior (Capes), ligada ao Ministério da Educação. Para, em seguida, desenvolvê-los nos núcleos do Instituto de Tecnologia Vale (ITV). “Pretendemos dar a entrada na Capes ainda neste ano”, afirma Mello.
Outras iniciativas
A Petrobras também atua junto a universidades para formulação de grades curriculares de cursos de pós-graduação — além de tocar 50 linhas de estudos coordenadas pelo Centro de Pesquisas e Desenvolvimento Leopoldo Américo Miguez de Mello (Cenpes), instalado na Ilha do Fundão (RJ). A petrolífera mantém ainda o Redes Temáticas, projeto focado em criar infraestrutura laboratorial, capacitar pesquisadores e tocar pesquisas. “A maior parte dos investimentos em infraestrutura foi concluída. O nosso foco agora é desenvolver recursos humanos”, diz Carlos Tadeu Costa Fraga, gerente-executivo do Cenpes.
Os recursos partem de resolução de 2006 da Agência Nacional de Petróleo (ANP), que estabeleceu o repasse de 1% do faturamento com exploração para pesquisa e desenvolvimento (P&D), sendo obrigatória a aplicação de 50% fora da Petrobras. A medida deve injetar R$ 400 milhões anuais em projetos externos.
A resolução da ANP patrocinou a ampliação do Cenpes, concluída em 2010, transformando o centro no quarto maior núcleo de inovação do globo. O local ganha agora projeção maior com a instalação de General Eletric, Halliburton, Tenaris Confab, FMC Technologies, Baker Hughes e Schlumberger. Essas empresas migram para a Ilha do Fundão atraídas pelo pré-sal.
Esse mesmo interesse norteia a decisão da Usiminas de criar no Rio uma divisão de seu centro tecnológico de Ipatinga (MG). A siderúrgica coloca R$ 29 milhões no núcleo, em parceria com a UFRJ, para desenvolver aço para as indústrias naval, óleo e gás. “Será um centro focado em engenharia de aplicação. Ou seja, novas formas de aplicar o aço nesses segmentos”, diz o diretor de inovação Darcton Damião.
O passo seguinte será atrair pesquisadores para projetos de inovação aberta. A empresa negocia o repasse de verbas públicas para financiar bolsas de estudos em metalurgia avançada. “Queremos fazer uma captação externa maior. Até 2009, a Usiminas usou recursos próprios para pesquisa”, diz o diretor.